NÃO DEIXE AS PESSOAS TE COLOCAREM NAS TEMPESTADES DELAS. COLOQUE-AS NA SUA PAZ. Buda.

NÃO DEIXE AS PESSOAS TE COLOCAREM NAS TEMPESTADES DELAS. COLOQUE-AS NA SUA PAZ. Buda.
"Por favor, para entrar aqui agora é preciso pés descalços e nenhuma armadura. Não existe tristeza em mais nenhum canto desta casa, tudo foi limpo e adornado com amor." Marla de Queiroz*****NÃO DEIXE AS PESSOAS TE COLOCAREM NAS TEMPESTADES DELAS. COLOQUE-AS NA SUA PAZ. Buda.

domingo, 12 de setembro de 2010

foto tirada da net

A amizade é um pé de jasmim-manga


Da equipe do Amigos


Às vezes sinto saudade daquelas amizades que cresceram dentro de mim fortes como pés de jasmim-manga. Árvores que atingiam o céu, nele traçando mapa no qual subíamos em direção às remotas regiões celestes. E fantástico disso tudo eram as motivações que nos moviam. Poder-se-ia, um amparado na amizade do outro, promover revoluções, derrubando sanguinários ditadores.

De quando em quando se acendia uma querela, vozes sobrepondo-se as demais no sentido de desejar, por méritos próprios, transformar-se no chefe, ditando leis, esbravejando ordens. Logo, porém, as gargalhadas espocavam rachando o ar, convencendo-nos da inutilidade daquele impulso ditatorial.


Ao ver um idoso caminhando solitário nas ruas, ou sentado a um banco de praça, olhar aguado e distante, imagino-o por dentro. Por certo vozes joviais gritam dentro de si, jogando-lhe nas veias cheias de obstáculos – rios que entopem minuto a minuto – luminosas sementes do entusiasmo, o qual porém não consegue vencer a armadura que o tempo, implacável, jogou-lhe sobre o corpo, enrijecendo-o.


Limita-se tão-só a lembrar. E como tem tempo, ainda que mínimo conseguido através de negociação com a morte que se avizinha, a qual aceitou atrasar-se um pouco mais, olha a escuridão interna, às vezes de olhos fechados, gesto que, possivelmente, melhora sua visão. Pode não facilitar a visibilidade dos olhos, mas aumenta e muito a da alma, que se esgarça como flor exótica, esticando-se em direção ao sol também interior. Aliás, tenho impressão de que tudo acontece no interior dos velhos, nos prados mais ermos.

Não porque ele não se interesse pelo mundo externo... É a vida que acontece aqui fora, frenética, irada e sem paciência é que não se interessa por ele. Sente-se como aquela peça do jogo de xadrez, especialmente o peão velho e desgastado, cujo hábito é ficar de olho parado no rei, na rainha, na torre... Até que, num sopro, vê-se retirado do tabuleiro.

Quanto mais me lembro dessas amizades ruidosas como temporais de verão, mais me sinto um velho peão de xadrez, prestes a ser suprimido. Mas não fico triste, não. Compreendo que tudo não passa de ilusão. Se acreditarmos em mágica, ainda que seja àquela que sobrevive de cartolas e coelhos, a vida se torna menos pesada, e a solidão do velho no banco da praça menos penosa.

A saudade das amizades frondosas, cantando dentro da gente, cavando espaço em direção ao sol, desde que a entendermos como um impulso criador ajuda-nos não só na travessia que se avizinha, mas no outro lado da vida, cujas palavras de ordem serão outra vez gritadas, preparando-nos para reinos derrubar, sejam meio as nuvens, seja em outros planetas ou galáxias.

Pensando bem não existe solidão. Isto é, desde que a alma assim o deseje. Afinal, sempre existe a possibilidade de buscar consolo num pé de jasmim-manga, ou, quem sabe, à sombra de qualquer grande e amorosa árvore. Nelas habitam as melhores memórias. Nelas, por fim, bate o generoso coração das verdadeiras amizades.

Manoel Magalhães

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