NÃO DEIXE AS PESSOAS TE COLOCAREM NAS TEMPESTADES DELAS. COLOQUE-AS NA SUA PAZ. Buda.

NÃO DEIXE AS PESSOAS TE COLOCAREM NAS TEMPESTADES DELAS. COLOQUE-AS NA SUA PAZ. Buda.
"Por favor, para entrar aqui agora é preciso pés descalços e nenhuma armadura. Não existe tristeza em mais nenhum canto desta casa, tudo foi limpo e adornado com amor." Marla de Queiroz*****NÃO DEIXE AS PESSOAS TE COLOCAREM NAS TEMPESTADES DELAS. COLOQUE-AS NA SUA PAZ. Buda.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

COLCHA DE RETALHOS

Fios que se entrelaçam



"O amor é o símbolo da eternidade; ele nos faz perder qualquer noção do tempo." ( Anna Louise de Staël)


"A linda colcha de retalhos era mesmo muito antiga, com muitas das tramas de seda quase desfeitas, mas ainda muito bonita. O tecido estava surrado e desbotado, mas ela havia sido tratada com carinho por muitos anos.

A professora que ensinava a fazer as colchas de retalhos um dia levantou a peça para mostrá-la às alunas, explicando: "Este é um tipo de desenho muito usado para colchas no século dezenove. Esta aqui foi tecida por alguém que dispunha de vários tipos de tecidos, pois apresenta muita variedade. Depois de compré-la, percebi que era originalmente maior. Alguém dividiu ao meio".

Todas as alunas lamentaram. Quem poderria ter cortado uma colcha tão bonita?

Uma carroça rumava para o oeste. O ano era 1852...

Enquanto se enrolava com a irmã na colcha para dormir, Katherine pensava nos acontecimentos dos últimos três anos.

Aquele era um dia especial, pois Ketherine e Lucy comemoravam seus aniversários. Ketherine fazia treze anos; Lucy, apenas três. Ketherine ficara muito feliz em, finalmente, ganhar uma irmãzinha! Lucy chegara como um presente, bem no dia do seu aniversário. A vida parecia correr na maior harmonia.

Mas aconteceu uma tragédia quando Lucy tinha só um ano e meio. Sua mãe morreu e o pai decidiu que deviam se mudar para o Oeste.

Tudo o que possuíam foi vendido, doado ou colocado na carroça, e eles partiram em uma caravana. Naquele dia de aniversário, as duas irmãs se aconchegavam debaixo da colcha, que era tudo o que tinham para se lembrar da mãe e da casa que deixaram.

"Conte uma história", Lucy pediu. "Conte uma história dos quadrados da colcha".

Katherine sorriu. Toda noite a cena se repetia. Lucy adorava ouvir histórias sobre a colcha e Katherine adorava contá-las.

"De qual dos quadrados?", perguntou. Lucy passou a mão sobre a colcha até chegar aum quadrado azul-claro, decorado com flores. "Este aqui, Katy." A história daquele quadrado azul era sua favorita.

"Bem, este retalho vem de um vestido de festa de uma moça com um lindo cabelo ruivo. Seu nome era Nell e todos a consideravam a moça mais bonita da cidade..."

Lucy logo adormecia, mas Katherine continuava a olhar a colcha. Cada quadrado trazia à sua lembrança histórias ligadas à casa, aos amigos, à família e aos tempos mais felizes. Sua mãe fora modista e sempre tinha retalhos em casa. Assim, quase todos os quadrados eram diferentes. Tecidos finos, sedas e brocados de vestidos de festa das moças da cidade se alternavam com retalhos de vestidos da própria Katherine. Um outro viera da camisola de batizado de Lucy. Aqui, um pedaço do vestido de noiva, ali um pedaço do avental da avó. A colcha que lhes aquecia o corpo e o coração era agora o único bem que mantinha os vínculos com as alegrias do passado. Katherine dormia agradecendo por aquela colcha, seu conforto e consolo. E as histórias da colcha se multiplicaram pelo caminho.

Estavam na estrada há umas três semanas quando Lucy caiu doente, com muita febre. Katherine fez o possível para ela se sentir melhor. Durante o dia, sentava-se com a pequena na carroça, no seu lento avançar. Acariciava seu cabelo, ajeitava seu travesseiro e escolhia canções de que gostavam. À noite, com Lucy em seu colo, contava histórias dos quadrados da colcha, até que ela adormecesse.

Um dia, no fim da tarde, durante uma parada, Katherine foi buscar um pouco de água fresca no pequeno rio próximo. Ao pegar o balde, foi tomada de um sentimento de paz e sentiu que Lucy logo estaria bem. Katherine caminhou devagar sobre a grama macia em direção à água, encheu o balde e se sentou. Deitou-se sobre a grama, olhando océu tão azul e se lembrou dessas palavras reconfortantes: "Este é o dia feito pelo Senhor. Alegra-te e sê feliz".

Atordoada, saiu em busca do seu pai. Encontrou-o perto dos outros homens, com o corpo imóvel de Lucy no colo. Olhou para Ketherine, os olhos vermelhos e inchados e simplesmente disse: "Ela agora está em paz."

A dor de Katherine era imensa. Uma das mulheres abraçou-a, dizendo: "Vamos precisar de alguma coisa para enrolá-la. Não precisa ser nada muito grande."

Katherine assentiu com um gesto, enquanto entrava na carroça. Não se sabe bem como, conseguiu achar a tesoura. Pegou a colcha com cuidado e, de coração partido, dividiu-a em dois pedaços."

ANN SEELY

Um comentário:

Mãezinha disse...

Deus te abençoe minha irmã. Que linda e emocionante este texto. Nossa vida é uma colcha de retalhos,
Este texto lembra nossos pedaços já passados.Tenha uma ótima semana, beijos te amo.